sexta-feira, 17 de abril de 2015

Lisbon Psych Fest

No passado fim-de-semana foi tempo de viajar.
Quem se dirigiu ao Teatro do Bairro, palco da primeira edição do Lisbon Psych Fest, na sexta-feira e sábado passados pode viajar pelo mundo do psicadelismo até onde a sua mente deixasse ser guiada.
Foi isso que senti nestes dois dias: momentos de viagem mental, paz e satisfação. Possivelmente tocaram com a ponta dos dedos na essência do Woodstock.

Deixo desde já os meus parabéns à organização do festival que, para primeira edição, não podia ter estado melhor. Desde o Line up, ao local, ao preço e às condições, nada de negativo me cabe apontar.

Dia 1, Sexta - Feira

Tess Parks
Ás 22h em ponto ouviam-se os primeiros acordes de uma guitarra subtil e poucos minutos depois uma voz rouca que parecia querer seduzir o público. O que poderia ter sido uma conquista, tornou-se desilusão geral. A voz rouca, que se arrastava cada vez mais de minuto para minuto, afirmava que estava embriagada e falava de amor. Demasiado embriagada por sinal. As músicas pareciam ser uma continuação das anteriores e o álcool acabou por roubar o interesse ao concerto que durou cerca de 30 minutos.
Tess Parks é do Canadá e fez-se acompanhar pelo namorado e a sua guitarra.
Tem notórias influências de Mazzy Star.



Pauw
O palco encheu-se de seguida com 4 meninos holandeses de aspecto hippie. Encheram o palco e a alma dos espectadores.
Fizeram-nos voar às décadas de 60 e 70 com um rock psicadélico sublime, cheio de excelentes construções musicais com um baixo, uma bateria e um teclado de cortar o ar. De notar o facto de o baixista tocar alguns acordes com um arco de violino e o teclista ter um gongo chinês no qual ia batendo subtilmente.
Tocaram aproximadamente 45 minutos uma meia dúzia de faixas de longa duração.
Entraram sem dúvida para o meu top 3 do festival.


thelightshines
Foi tempo de acalmarmos os ânimos deixados em altas pelos Pauw. Os thelightshines, 5 meninos com um ar londrino entram em palco para nos suavizarem o ouvido com um pop rock, também, tipicamente londrino.
Foi um concerto calmo, com alguns riffs de rock'n'roll e uns toques de psicadelismo, uma voz branda, letras básicas e pouca simpatia.
Tocaram cerca de 35 minutos e terminaram com a faixa single do álbum que sai este ano, faixa tal que tem um nome bastante apelativo para os mais atentos - God is a Gun (Who Could Killl Anyone).
Arriscaria dizer que têm influências de Stone Roses.
Têm mais força em estúdio que ao vivo.


Black Market Karma
De seguida, compatriotas dos antecessores e cheios de presença, entram em palco os Black Market Karma constituídos por 4 meninos e 1 menina.
Fechámos os olhos e fomos guiados até um mundo encantado, cheio de psicadelismo.
A voz masculina penetrante, encaixava na perfeição com o jogo de guitarras e percussão existentes. A voz feminina não ganhou força para sobressair por entre a complexidade instrumental existente.
As faixas eram longas e hipnotizantes, deixando o público com um sorriso nos lábios durante cerca de 1 hora.


Keep Razors Sharp
Para finalizar os concertos, os tão bem escolhidos cabeça de cartaz sobem ao palco.
Mostram-se tímidos mas cheios de garra e rock a escorrer pelos poros.
Os Keep Razors Sharp revelam uma maturidade musical que tem como resultado um dos melhores concertos da noite e, quiçá, do festival.
4 amigos ligados à música tocam uma mistura de rock psicadélico com post - rock, com influências de Jesus & The Mary Chain e uns toques de Black Rebel Motorcycle Club.
Durante aproximadamente 1 hora para além de satisfazerem os ouvidos dos presentes, ainda trouxeram 2 surpresas: a companhia do Paulo Furtado numa música e a cover da Kylie Minogue - Can´t Get You Out Of My Head, que os acordes de rock conseguiram transformar completamente.


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A noite terminou da melhor maneira com  a Floresta Encantada de Tiago Castro e Ana Farinha, da Radar.

Dia 2 - Sábado

Basset Hounds
Se a noite anterior terminou com maturidade musical, a noite a seguir iniciou com falta dela.
Já atrasados, pela falta de pessoas existentes no teatro, entram 4 meninos portugueses em palco captando as atenções do público.
Tocaram cerca de 30 minutos e não encantaram. Embora o instrumental fosse bem trabalhado, a voz mostrou-se fraca e sem garra. Tocam rock e é só. Nada de novo ou inovador, pelo menos na minha opinião. Não quer isto dizer que tenha assistido a um mau concerto, foi apenas menos interessante.
No final ainda houve uma tentativa de explosão de rebeldia quando um dos guitarristas começou a bater com a guitarra no chão.


My Expansive Awarness
Foi a vez de Espanha mostrar como anda o rock por lá.
Entram em palco, tímidos, 4 meninos e 1 menina pouco comunicativos, tocam a primeira música apenas instrumental e deixam o público ansioso e cheio de curiosidade.
Foi um concerto em crescendo que durou cerca de 50 minutos. Dotados de uma grande energia, trouxeram-nos um rock psicadélico com uma mescla de space rock que fez o público iniciar a viagem.
Possuem umas excelentes linhas de baixo e um bom teclista. A voz feminina, mais uma vez precisava de menos subtileza, embora se conjugue bem com a masculina.
Foi uma agradável surpresa para o público e, penso que para eles também.


Desert Mountain Tribe
Chegou a hora do rock'n'roll, da força das guitarras e da voz com distorção.
Embora a banda londrina tenha mantido sempre uma linha exacta e tenha sido pouco comunicativa, os 35 minutos de concerto que deu foram extraordinários.
Composta apenas por baixo, guitarra, bateria e voz (3 elementos), não se sente a falta de mais.
Mostraram um poder instrumental que não é fácil de alcançar. Notam-se influências de Velvet Underground.


dreamweapon
Os portugueses dreamweapon estavam bem guardados. Tão bem guardados que poucos os conheciam e para os que não conheciam tornaram-se numa surpresa bastante agradável.
Constituída por 4 elementos, é uma banda com grande poder instrumental. As faixas pouca voz têm e pouco precisam dela. A distorção, as guitarras pesadas, fortes e sabedoras do caminho que devem seguir e as faixas longas obrigam-nos a fechar os olhos e a percorrer caminhos de transe mental.
Viagens psicadélicas, repletas de boas energias que perduraram cerca de 45 minutos. 
Há uma notória influência de The Doors e do rock psicadélico dos anos 70.
Embora a comunicação falada tenha sido escassa, encerraram o meu top 3 do festival.


The Vacant Lots
O festival chega ao fim com um grande duo americano. Os Vacant Lots encerraram o festival da melhor maneira com um concerto cheio de rock psicadélico, progressivo e minimalista.
Com batidas electrónicas mescladas com os riffs da guitarra e o único prato existente, o público deixou-se envolver, ganhando energia para tirar os pés do chão.
De valorizar a construção musical alcançada com a complexidade sonora, que aos olhos do público parece extremamente fácil de conjugar mas, na realidade, é digna de gente sábia.
Mais um concerto com pouca comunicação, mas muita presença.


Obrigada Lisbon Psych Fest.

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